Uma explicação importante:
Preferi iniciar esse estudo por essa palavra de explicação, o objetivo aqui é unicamente evitar que o aluno comesse o estudo com um pensamento equivocado ao que ele realmente pretende discursar. As linhas abaixo quer falar de uma visão bíblica, ou seja, não iremos por em evidencia uma escola de interpretação para dirigir esse estudo – apesar de que reservamos o direito discursivo de citar tanto o Arminianismo como o Calvinismo no texto. A nossa base será a Palavra de Deus, completa, inerrante e suficiente. Sobre as proposições [1] aqui discutidas, todas serão a partir de Cristo e para Cristo. Não haverá em momento nenhum a intenção de formar uma teologia sui generis [2], pois toda a nossa discussão deverá ser direcionada, pelo que já temos, em nossa Declaração de Fé das Assembleias de Deus, que no Capítulo X Sobre a Salvação, discursa com clareza que cremos: “[…] a salvação está disponível a todos os que creem. Sim, todos nós, sem exceção, podemos ser salvos através dos méritos de Jesus Cristo” (SOARES, 2017, p. 110), o que deixa evidente o pensamento Arminiano sobre a salvação, aliás, essa linha de pensamento teológico é amplamente aceita em denominações pentecostais, o que aqui, e nesse caso, se encaixa com mais facilidade. Mas mesmo sabendo dessas informações importantes, alegamos que o presente estudo é – e será conduzido – à Luz da Bíblia e não por uma corrente teológica específica, pois como já afirmamos a Bíblia não erra. Ela é a Palavra do SENHOR revelada, que mostra com clareza o plano de Salvação de Deus para o homem.
Introdução:
Nossa tendência em assuntos complexos é sempre analisar superficialmente tomando o cuidado para não ferir os sentimentos alheios, isso pode até ser bom, mas, não é eficaz e nem justo. No caso da discussão do assunto Eleição e Predestinação o erro mais comum é confundir os dois termos como se eles fossem um só. É inegável que são intimamente ligados, mas, não é “a mesma coisa”; enquanto a eleição é uma escolha graciosa a predestinação é o propósito final dos que foram anteriormente eleitos em Cristo. Outro cuidado quando se discute esse assunto, é não julgar necessária a dupla predestinação – um lado salvo e outro lado condenado – pois a Bíblia fala de predestinação em relação aos salvos em Cristo. Segundo o pastor Silas Daniel: “[…] duas coisas devem ser definitivamente esclarecidas […] sobre esse assunto: eleição e predestinação, conquanto sejam duas coisas intimamente relacionadas, não são uma e a mesma coisa; e predestinação não envolve condenação eterna”. (DANIEL, 2017, p. 424). E é com esse cuidado que iremos analisar esse tema tão relevante para o professor da EBD nos atuais dias da igreja.
Eleição à Luz da Bíblia:
A condição mais fundamental da eleição é estar em Cristo, afinal, Jesus Cristo é o Eleito e a eleição é antes de tudo, cristocêntrica como afirma o texto de Efésios 1:1-4:
“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus: A vós graça, e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo! Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. (Grifos meus).
A Eleição é primeiramente cristocêntrica
Pelo fato de que não há salvação a não ser em Cristo, logo, todos os salvos, são salvos em Cristo e todo o eleito é eleito em Cristo. Armínio [3], por crer estar assim, “em maior conformidade com a Palavra de Deus”, diz: “O primeiro decreto integral de Deus a respeito da salvação do homem pecador é aquele no qual Ele decreta a indicação de seu Filho, Jesus Cristo, para Mediador, Redentor, Salvador, Sacerdote, e Rei que deve destruir o pecado pela sua própria morte, e que deve, pela sua obediência, obter a salvação que se perdeu, devendo comunicá-la pela sua própria virtude”. (ARMÍNIO, V 1, 2015, p. 226 – Grifos meus). Sem Jesus não há salvação e sem salvação não há eleição (At 4.11,12).
A Eleição bíblica é corporativa.
E por eleição corporativa se entende um grupo, o corpo, a Igreja, que é formada por todos aqueles que creram em Cristo – firmando assim sua cristocentridade e sua corporatividade – podendo ser facilmente entendida a partir da Bíblia, um conceito doutrinal: Deus “nos elegeu” (Ef 1.4), com foco em um povo (Ef 2.14,19), corpo (Ef 1.23; 2.15,16; 3.6; 4.4,12,16,25; 5.23,30), família (Ef 2.19; 3.15), edifício (Ef 2.20-22), chamado Igreja (Ef 1.22; 3.10; 5.23,24,25,27,29,32). É só observar como Deus elegeu Israel como seu povo na terra (Dt 7.6-8), e essa escolha seguiu fielmente pelas gerações do povo eleito até a vinda e revelação do Cristo – o eleito de Deus – o Salvador do Mundo. A Eleição de indivíduos na Bíblia ocorre apenas em relação à chamada ministerial.
A Eleição é condicional
Pois Jesus não se manifestou no mundo somente para formalizar a Salvação que Deus já havia preparado “desde antes da fundação do mundo”, mas Jesus é a própria condição para que as pessoas sejam salvas. Jesus tem “papel” central no projeto da salvação, aliás, todo o enredo Bíblico trafega por um caminho que acaba em Cristo, toda a escritura existe para notificar o homem sobre esse plano salvífico de Deus em Cristo Jesus. Portanto para ser um eleito é necessário estar em Cristo. E estar em Cristo é estar unido a Jesus, podendo assim receber todas as bênçãos decorrentes dessa união, que são: redenção, justificação, certeza de salvação, regeneração, nova mentalidade, santificação (1Co 1.30), quem está unido a Cristo é “nova criatura” (2Co 5.17), e pode receber “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais” (Ef 1.3), para essa união ser concreta é necessário que aconteça duas coisas na vida do homem: fé e arrependimento (Mc 1.15; 16.16).
Predestinação à Luz da Bíblia:
Como já citamos anteriormente a predestinação Bíblica é o propósito final reservado a todos os eleitos em Cristo, ou seja, todos os salvos por meio da graça que se manifestou mediante o sacrifício vicário de Jesus terão um “final” glorioso, o destino destes é encontrar-se com o Cristo “e assim estaremos sempre com o Senhor”, (cf. 1Ts 4.16,17).
A palavra “predestinar” do grego (proorizõ [4]), só aparece no texto do Novo Testamento seis vezes, é nunca relacionada com condenação, vejamos:
1 – (Atos 4.28) “Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado (proorizõ) que se havia de fazer”. [Aqui aplicada em referência a Cristo].
2 – (Romanos 8.29) “Porque os que dantes conheceu também os predestinou (proorizõ) para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. [Aqui faz referencia a Salvação].
3 – (Romanos 8.30) “E aos que predestinou (proorizõ) a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou”. [Aqui faz referência a Salvação].
4 – (1Coríntios 2.7) “Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou (proorizõ) antes dos séculos para nossa glória”. [Aqui em referência à sabedoria divina].
5 – (Efésios 1.5) “E nos predestinou (proorizõ) para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade”. [Aqui faz referência a Salvação].
6 – (Efésios 1.11) “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, (proorizõ) conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. [Aqui, juntamente com o versículo cinco, faz referência a Salvação].
Deixando assim evidente que a predestinação não é dupla, mas apenas relativa àqueles que são salvos em Cristo. Temos aqui o suficiente para por de lado qualquer ideia determinista – calvinista – que diz respeito a uma determinação (predestinação), a condenação. Na verdade a Bíblia não faz menção a uma predeterminação à condenação e como já vimos a Bíblia não se refere à predestinação para salvação, mas a Bíblia fala da predestinação dos salvos.
Portanto a luz das Escrituras é possível “enxergar”, por essa janela, o destino final dos salvos em Cristo. Que propósito maravilhoso! Passo agora, a citar, as palavras do teólogo pentecostal, Pastor Silas Daniel: “Segundo a Bíblia, a predestinação tem três objetivos. Os salvos em Cristo são predestinados, conforme o texto sagrado, a: [1] Serem filhos por adoção de Jesus (Ef. 1.5); [2] Serem coerdeiros com Cristo (Ef 1.11); [3] Serem conforme a imagem de Cristo (Rm 8.29). Como podemos ver, predestinação, à Luz da Bíblia, não tem por objeto a fé (não define se alguém vai crer ou não) e não tem a ver com o lugar, mas com o ser”. (DANIEL, 2017, p. 424 – Grifos meus). O ser aqui é ser salvo em Cristo e essa salvação é unicamente pelos méritos de Jesus Cristo.
Conclusão:
A eleição corporativa da igreja só é possível por causa sacrifício de Jesus; “E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem” (Hb 5.9), a salvação pela graça é oferecida a todos os homens; “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens” (Tt 2.11), mas isso não significa que a graça é irresistível, pois infelizmente há muitas pessoas que resistem o chamado do Espírito Santo e permanecem em seus pecados; “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais” (At 7.51), porém para aqueles que por fé se aproxima de Deus e com arrependimento buscam o perdão, encontra em Jesus Cristo a Salvação pela graça: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2.4-6). A esses salvos o Céu é seu destino final, sim os salvos inseridos na Igreja – o corpo de Cristo na terra – estão predestinados à eternidade unidos a Cristo, somos predestinados à glória, e tudo isso já é conhecido de Deus por sua presciência; “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” (Rm 8.29,30). Para cada um dos salvos, o que resta é permanecer firme até o fim: “Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mt 24.13).
Bibliografia:
SOARES, Esequias, Declaração de Fé das Assembleias de Deus, 2017, CPAD;
ARMÍNIO, Jacó, As Obras de Armínio, volune1, 2015, CPAD;
DANIEL, Silas, Arminianismo
a Mecânica da Salvação, 2017,
CPAD.
[1] Proposição é um termo usado em lógica para descrever o conteúdo de asserções. Uma asserção é um conteúdo que pode ser tomado como verdadeiro ou falso.
[2] Sem semelhança com nenhum outro, único no seu gênero; original, peculiar, singular.
[3] Jacó (português brasileiro) ou Jacob (português europeu) Armínio (em latim: Jacobus Arminius, nome latinizado de Jakob Hermanszoon; 10 de outubro de 1560 – 19 de outubro de 1609) foi um teólogo neerlandês da época da reforma protestante. Trabalhou em 1603 como professor de teologia na Universidade de Leiden, e escreveu muitos livros e tratados sobre teologia; sua visão tornou-se a base do arminianismo e do movimento neerlandês Remonstrante.
[4] Em Bíblia Strong na referencia G4309, como também na Bíblia Palavras Chave da editora CPAD com a mesma referencia Strong (At 4.28 – determinado 4309).